FESTA DO ROSÁRIO E CONGADO NO SERRO


Reinado do Rosário (Foto: Consuelo Abreu)

Julho (primeiro fim de semana do mês)

A mais bela festa de religiosidade e cultura popular do Serro se caracteriza pelo sincretismo, pois traz em si elementos de origem africana, indígena e europeia. Nossa Senhora do Rosário é a sincretização da deusa europeia, com a soma de costumes e rituais africanos. Logo após o registro dos 500 anos da chegada dos primeiros conquistadores portugueses, ela se reveste de uma significação ainda maior. A escravidão tira a liberdade mas não escraviza a alma. E esta mistura foi uma das formas encontradas para que parte da cultura negra pudesse sobreviver e se manifestar, mesmo convivendo com imposições e a desumanidade da senzala e do açoite.

A padroeira dos negros é homenageada com novenas, missas, procissões, fogos, danças e cantos, atraindo peregrinos e visitantes de todo o país e se constituindo na mais expressiva manifestação da tradição e da cultura popular da região. Estes momentos trazem sempre à lembrança pessoas como Zé Doutor, Geraldo Nazário, Argemiro, Zé de Fina, Gervazinho, Zé Rocha, Vicente de Bela, Zé Rabelo, Dona Laura, Efigênio e tantos outros - festeiros, dançantes e fiéis de um passado recente.

Congado dos Marujos Mirins (Foto: Tiago Geisler)

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Freguesia da Conceição da Vila do Príncipe do Serro do Frio, cujo Compromisso (estatuto) data de 1728, dirige a festa desde a fundação da entidade, havendo registros de celebrações desde 1716. Era uma época fantástica, já embalada pela fartura do ouro e em plena explosão do ciclo do diamante. Os grupos atuais de Catopês (negros), Caboclos (índios) e Marujos (portugueses) dançam e cantam, parte ainda em dialeto africano, com o acompanhamento de orquestras de instrumentos musicais, alguns de fabricação artesanal (flautas, caixas de couro, xique-xiques, reco-recos), durante os três dias da festa, com os trajes típicos do congado. O ritmo devoto dos grupos, o batido dos tambores e a alegria da dança, da marcha, do compasso, tudo forma um conjunto admirável, com forte influência da cultura africana e indígena.

O Reinado também desfila pelas ruas da cidade, com pompa e estilo, formado por Rei, Rainha, Juízes, a Caixa de Assovio, mordomos, mucamas, num bonito cortejo. Os vários festeiros oferecem cafés, refeições e magníficos doces de fabricação caseira, em suas residências, para todos os participantes e convidados, transformando a festa numa confraternização geral dos fiéis, moradores, visitantes e filhos ausentes da cidade. É como uma segunda alforria e muitos serranos tiram férias durante a festa, principalmente os mais devotos, os humildes e os negros, morem na cidade ou no mais distante rincão do país. Hábito que se renova todos os anos.

Congado dos Caboclos (Foto: Tiago Geisler)

Os Grupos de Congado (fonte: asminasgerais):

- Marujos

Os Marujos representam o homem branco, a esquadra portuguesa na luta contra os Mouros. Vestem-se como marinheiros, tendo ao centro o Capitão de Mar e Guerra, Capitão de Nau Fragata, Mestre e Contramestre, Calafatinho, Mané, Massimbaque e o Doutor, figuras da marinha. Cantam ao som de instrumentos de corda, cavaquinhos, violões, pandeiros, xiquexiques, flautas e caixas de couro. Dançam a resinga, uma alegoria da luta entre dois grupos de marujos que termina com a morte do comandante. Os passos são cadenciados e sugerem um movimentado combate.

- Caboclos

Os Caboclos representam os índios, são os abre alas da Festa. Ao som de caixas de couro e sanfona, reverenciam a Virgem com alegria, representando a persistência dos índios que não se deixaram dominar. Se enfeitam com coletes coloridos, adornados com lantejoulas, broches e medalhas. Usam cocares de penas coloridas enfeitados com fitas, perneiras com penas, pulseiras e brincos. Trazem consigo uma flecha de madeira com a qual batem acompanhando o ritmo da caixa. Apresentam a "embaixada", que é o encontro dos indígenas com os portugueses, a dança do "pau de fitas" e a "dança do lenço". Saem sempre em duas alas, tendo na frente o caboclo matinador e o caciquinho, um caboclo mirim que tem como função chamar os caboclos ao comando do Mestre. No meio destas alas vão os caboclos "Mestre", "Embaixador", "Zé de Freitas" e "Pantalão". Ao final das filas, as figuras do "Papai-vovô" e da "Mamãe-vovó", representando os índios velhos e sua sabedoria, com suas bengalas e mascarados, fazem a alegria da garotada.

- Catopês

Representam os negros que com o toque de suas caixas de couro revivem os gemidos dos negros nas senzalas. Desfilam sob o comando do Mestre e do Contramestre. Levam tamborins, caixas de couro, xiquexiques e reco-recos. É o grupo mais importantes na hierarquia dos dançantes e conserva cantos e danças mais próximos das tradições africanas. Suas roupas são simples, com capas de chita estampadas, espelhos, lenços, lantejoulas e capacetes enfeitados com penas.


Origens Católicas

O uso do Rosário remonta ao ano de 1096, proposto por "Pedro, o Eremita", monge católico francês, um dos principais pregadores das Cruzadas, para difundir o hábito da oração entre os fiéis. Teria surgido aí a devoção a Nossa Senhora do Rosário. Porém, a festa se refere a fatos históricos posteriormente trazidos pelos colonizadores portugueses. Uma parte da festa é a narrativa da batalha naval de Lepanto, na Grécia. Nesta histórica luta de 1571, que teve a participação de Miguel de Cervantes (autor de "Dom Quixote"), os cristãos venceram os mulçumanos, sob a proteção da Virgem do Rosário, apesar da grande desvantagem em número de combatentes.

Congado dos Catopês (Foto: Consuelo Abreu)

A Lenda Brasileira

Uma história brasileira contada pelos devotos diz que N. Sra. do Rosário apareceu sobre as ondas do mar. Os índios (Caboclos), já catequisados pelos padres jesuítas, foram até à praia, dançaram e cantaram, convidando-a para vir até a terra. Ela porém não veio. Depois os portugueses (Marujos) também a convidaram, com cantos e danças, mas ela continuou sobre as ondas. Quando os negros (Catopês) fizeram suas homenagens - cantando, dançando e tocando instrumentos - ela finalmente aceitou vir até à praia. Por isto, os Catopês defilam junto ao Reinado da festa e mais próximos da imagem de N. Senhora.

Andor de N. Sra. do Rosário (Foto: Consuelo Abreu)


Pequeno Guia da Festa do Rosário:

- Sábado

Depois de oito dias de novena, o grupo da Caixa de Assovio dá início à cerimônia da Matina em frente à igreja do Rosário, na madrugada de sábado, fazendo a abertura dos três dias principais da Festa. Após as celebrações, a Caixa de Assovio e um extenso cortejo se dirigem às casas dos Festeiros, para o café da manhã e novas orações. Na noite de sábado, último dia da novena, um cortejo busca na casa do Mordomo a bandeira com a imagem da Virgem e a conduz até à igreja. Após a missa, há o espetáculo de fogos, danças, banda de música e a elevação do Mastro de N. Sª. do Rosário.

- Domingo

Na manhã de domingo, a missa de coroação do Rei e da Rainha do Rosário e as maravilhosas encenações da "Barca" e da "Embaixada", pelos dançantes do congado. No final da tarde, a procissão e a coroação de N. Sª. do Rosário. Durante o domingo e a segunda-feira, o Reinado e os grupos de Congado cruzam a cidade em direção às várias casas dos Festeiros, fazendo evoluções, cantando e encantando a cidade.

- Segunda-feira

A segunda-feira é dia da posse do "Segundo Reinado", que reinará até a festa do ano seguinte. Aí se repetem os desfiles nas ruas, em homenagem à Nossa Senhora. Ao fim do dia acontece a emocionada despedida dos dançantes e fiéis, que renovam os agradecimentos, os pedidos e as promessas, sempre com a intenção de retornar no ano seguinte.


Mais detalhes da Festa

- A Caixa de Assovio




Congado dos Marujos (Foto: Tiago Geisler)




                Congado da Caixa de Assovio (Foto: Tiago Geisler)


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