Tenho as
firmes fincadas no chão
Meu corpo
, tem paredes erguidas em diferente formatos
As vezes tenho
vão, para lenha guardar
Sou feito
de terra, cimento e açucar
Para todo
alimento adoçar e minha pele nao rachar
Sou
coberto por pedras, cimento queimado, cal ou azulejos
Depois do cantar do galo
Sou eu
quem escuta a mãe, pai, entrar na cozinha e atiçar entre as cinzas,
fazendo ofogo pegar
Recebo a chaleira com água para esquentar
Recebo a chaleira com água para esquentar
A panela
de ferro já com perfume de banha, para o fubá ensuado alimentar
O mancebo
sempre no meu canto, pronto a receber o coador para o café passar e o dia
começar...
Ouço a mãe que declama os afazeres do dia
Ouço o pai
que conta o progresso do trabbalho: Da reconstrução do telhado da matriz ao
altar com ranhaduras (carpinteiro do patrimônio)
Ouço o
filho pequeno que chega já com fome, é colocado em meu colo
Os filhos
maiores chegam já uniformizados, passam por mim aquecendo as mãos e pegando sua
porção do desejum
Vejo
sairem como passarinhos, depois do rebuliço que causam
Vai o pai com a promessa que o tira jejum chegará na hora certa...
Agora, sou
seu ouvinte
Ligo o
rádio ouvindo uma viola
Reclama do
tempo
Agradece o
dia, os filhos, a família, a comida
Faz lista
em voz alta:
Saudade da
mãe, o que fazer de mistura para o almoço
Coloca
lenha diferente, para a roupa passar, o cheiro da candeia surprende
As brasas se juntam e aguardam
As panelas
tomam lugar nas minhas bocas
A chaleira
com água sempre a ferver...
Tenho em
mim canos para água aquecer
Tudo
aceito
Sou quem
aquece em noite de milho assado nas brasas, pipocas estouradas no borralho de
cinzas
Na beira da minha boca, assa-se queijo: é dia de risos e causos
Sou eu
quem durante a noite cozinho o feijão, com fogo brando
Sou eu
quem em silencio, espero
Minha
missão cumprir
Sou o que
o tempo não leva
Não saio
da lembraça
Sou apoio
de corpo de quem cozinha
Sou mineiro!
Sou um fogão de lenha!
Tenho muito a contar...